Por Giuliana Esteves
O diabetes melito (DM) é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica, freqüentemente acompanhada de dislipidemia, hipertensão arterial e disfunção endotelial, e cuja prevalência tem aumentado de forma exponencial, adquirindo características epidêmicas, sobretudo nos países em desenvolvimento.
O controle da glicemia é considerado o principal objetivo no manejo do DM, sendo as técnicas dietéticas que previnem a hiperglicemia pós-prandial importantes na limitação das complicações. As tradicionais recomendações para se prevenir a hiperglicemia eram baseadas na estrutura química do carboidrato consumido. No entanto, atualmente, sabe-se que tanto a quantidade como também o tipo de carboidrato inerente aos alimentos exercem influência na glicemia.
Diferentes fontes de carboidrato variam quanto às suas taxas de absorção e, conseqüentemente, quanto aos seus efeitos sobre as concentrações de glicose e insulina, os quais podem ser quantificados através do índice glicêmico (IG) dos alimentos.
De uma maneira geral, os fatores que influenciam esta resposta são: a natureza do amido (amilose e amilopectina), o grau de processamento, a quantidade de monossacarídeos (frutose, galactose), a presença de fibras, o método e o tempo de cocção, o tamanho das partículas, a presença de fatores antinutricionais (fitatos) e a proporção de macronutrientes (proteína e gordura).
Por definição, o IG compara quantidades iguais de carboidrato e fornece uma medida da qualidade do mesmo, mas não a quantidade. Por essa razão, o conceito de carga glicêmica (CG) foi introduzido, a fim de quantificar o efeito glicêmico de uma porção de alimento (produto entre a quantidade de carboidrato glicêmico e o IG do alimento). Quanto maior a CG do alimento, maior seu efeito insulinogênico e maior a elevação esperada nos níveis plasmáticos de glicose.
O mecanismo pelo qual dietas com alto IG e CG poderiam interferir no controle glicêmico não está totalmente esclarecido. Sabe-se que o aumento da glicemia, nas duas primeiras horas do período pós-prandial, pode ser duas vezes maior após o consumo de refeições com alto IG, em comparação com as de baixo IG. Essa hiperglicemia é caracterizada por concentrações elevadas de hormônios que estimulam a liberação de insulina e inibem a liberação de glucagon. Até quatro horas após esse período, a absorção de nutrientes no trato gastrointestinal diminui e as concentrações plasmáticas de glicose reduzem rapidamente, muitas vezes levando à hipoglicemia. Após quatro a seis horas, a normoglicemia é restaurada. Essa resposta contra-regulatória pode gerar um estado de resistência insulínica e tolerância reduzida à glicose.
O consumo de refeições com baixo IG diminui a elevação pós-prandial de insulina e prolonga a absorção dos carboidratos. Sendo assim, uma dieta com baixo IG pode melhorar o manejo do DM, por diminuir a hiperglicemia pós-prandial precoce e o risco de hipoglicemia no estado pós-absortivo.
A FAO/WHO reconhece, na seleção de alimentos, a validade da aplicação clínica do IG em diabéticos e indivíduos com intolerância à glicose e considera que o IG seja utilizado como um indicador útil do impacto dos mesmos na resposta glicêmica. A American Diabetes Association também considerou que o uso, como coadjuvantes no manejo dietoterápico do DM, do IG ou CG dos alimentos poderia garantir um benefício adicional.
Por serem o IG e a CG ferramentas dietéticas que provêm informações sobre como os alimentos que contêm carboidratos afetam a glicemia, deve-se utilizá-los em conjunto com outras estratégias alimentares e nutricionais no manejo dietoterápico do DM.
A CG é determinada por meio da somatória dos produtos do carboidrato glicêmico de cada alimento (em gramas), pelo IG individual do mesmo, dividido por 100.
A CG é classificada como:
- Baixa: CG < 80% - Média: CG 80 - 120% - Alta: > 120%
Considera-se adequadas as dietas de baixa CG.
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