Dra Rita de Cassia Sales Coutinho Caputi – Nutricionista RJ
“Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu remédio seja o teu alimento”, dizia o médico e filósofo grego Hipócrates, na remota época em que nem se sonhava que a Nutrição fosse existir, porém o “pai da Medicina” já pregava que a alimentação e os estilos de vida do paciente influenciariam sobre seus estados de saúde e convalescença.
Cerca de 25.000 genes diferentes regulam o nosso corpo e muitas das enfermidades são causadas pela desregulação dos produtos desses genes. Entre 300 e 500 são os genes que podem controlar qualquer uma das doenças crônicas, como o câncer, doenças cardiovasculares (DCVs), pulmonares, metabólicas e neurológicas, causados por uma inflamação desregulada. O Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α) é uma citocina de grande participação como mediador de inflamação nessas e em muitas enfermidades, tendo seu efeito regulado pela ativação de um fator de transcrição, o Fator Nuclear-kappaB (NF-κB), presente no citoplasma na forma inativa associada a várias proteínas inibidoras (IκB).
Além do TNF-α, outras citocinas inflamatórias ativam o NF-κB: poluentes ambientais, radiação ultra-violeta, estresse químico/físico/mecânico, hiperglicemia, ácidos graxos, fumo e outros fatores causadores de doenças.
Eis aqui um alimento com imenso potencial funcional. O açafrão (Curcuma longa, L.), também conhecido como cúrcuma, turmérico, gengibre amarelo ou açafrão-da-índia, é uma planta herbácea da família do gengibre, originária da Ásia e muito utilizada como especiaria e tempero culinário, seja em pó ou a própria raiz. Possui um composto bioativo de cor amarelada, um flavonóide chamado curcumina.
Esse composto possui atividades benéficas em nosso organismo, como antiinflamatórias e antioxidantes, suprimindo a ativação de NF-κB e conseqüentemente inibindo sua cascata inflamatória, atuando positivamente contra Diabetes, doenças neurodegenerativas e DCVs, dentre muitos outros males.
Em estudos de animais com Doença de Alzheimer, a curcumina reduziu os níveis de peptídeo β-amilóide (formado pela ação de radicais livres e principal componente tóxico das placas senis do cérebro de pacientes com esse mal) e de proteínas oxidadas, reduziu sua produção, suprimiu seu acúmulo, além de suprimir danos oxidativos, inflamação e déficits cognitivos.
Em outra pesquisa, na análise da biópsia do coração infartado de ratos, foi observada diminuição de necrose após tratamento com curcumina. Em artérias coronárias suínas, houve bloqueio da disfunção endotelial induzida por homocisteína (aminoácido obtido da digestão de carnes e laticínios; quando elevado no sangue, aumenta o risco de DCVs, podendo evoluir a um infarto, mesmo em jovens) e do dano da vasodilatação induzida pela homocisteína, inibindo a expressão de óxido nítrico sintetase (NOS – enzima que após certos processos, resulta na produção de óxido nítrico, um vasodilatador) e bloqueando o efeito da homocisteína sobre a produção de radicais livres. Em coelhos com arterosclerose experimental, a curcumina oral inibiu a oxidação de LDL-colesterol (“colesterol ruim”) e mostrou efeitos hipocolesterolêmicos.
Em estudos conduzidos em ratos induzidos ao Diabetes, a curcumina promoveu significativa redução de glicemia, colesterol sérico e hepático, triglicerídeos, ácidos graxos livres, LDL- e VLDL-colesterol, além de significante aumento da insulina plasmática e do HDL-colesterol (“bom colesterol”).
Apesar de muitas pesquisas em animais e poucas em humanos, vale a pena incluir um pouquinho de açafrão (raiz ou pó) em nossa alimentação, principalmente quando consumido junto a uma pitada de pimenta-do-reino moída, pois seu composto bioativo, a piperina, aumenta em até 2000% a biodisponibilidade da curcumina e conseqüentemente seus efeitos positivos em nós, humanos. Afinal, já consumimos tantos alimentos com agrotóxicos, convivemos com tanta poluição do ar e da água, possuímos estilos de vida pouco saudáveis por conta da correria e do estresse diários, que trocar temperos e alimentos extremamente industrializados pelos mais naturais e saudáveis só traria benefícios à nossa saúde.
Fonte:www.pubmed.org
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